Iniciando na corrida de rua

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Começar na corrida de rua nem sempre é fácil, algumas vezes surgem dúvida e muitos questionamentos, então, hoje, para nos ajudar um pouco com isso, teremos algumas palavras do Dr. João Hollanda, médico ortopedista e corredor:

Várias são as razões que levam uma pessoa a correr: melhorar a saúde, perder peso, acompanhar o namorado, socializar com amigos. Alguns acabam atraídos para o esporte competitivo e outros, já iniciam a prática de corrida com foco em uma competição específica. Os benefícios da corrida para a saúde são enormes, mas por outro lado envolve certos riscos que devem ser minimizados por meio de uma avaliação e orientação adequada.

Na falta de um bom condicionamento físico o risco de lesões será alto, de forma que é importante que junto com o treino específico para a corrida se associe um trabalho de fortalecimento e reequilíbrio muscular. Pacientes obesos ou que já tenham dores nas articulações antes de iniciarem a prática de corrida, devem focar ainda mais no fortalecimento. Uma possibilidade é que se inicie com atividades de menor impacto, como a bicicleta, o transport ou a natação até que o organismo esteja preparado para suportar a carga da corrida.

A iniciação na corrida deve ser gradual e sempre passando pelas distâncias menores antes de se chegar às corridas de longa distância; não é incomum, porém, que pessoas que não possuem condicionamento para correr 5km se inscrevam para correr uma meia-maratona. Treinadores e preparadores físicos muitas vezes estimulam esta prática, seja por despreparo ou pela ganância de cativar mais um aluno.

Principalmente entre as pessoas que buscam na corrida uma forma de perder peso, é importante que seja feita uma avaliação nutricional. Dietas excessivamente restritivas feita sem orientação adequada aumentará o risco de lesão e pode ter o efeito inverso do esperado, com perda de massa muscular ao invés de perda de gordura e aumento da incidência de dores e lesões. Mais do que simplesmente contar calorias, é importante que a alimentação seja bem distribuída ao longo do dia e que leve em consideração os horários dos treinos.

Finalmente, deve-se avaliar os hábitos de sono e eventuais queixas de fadiga, uma vez que o sono não reparador não permitirá que a pessoa se recupere do treino do dia anterior e pode contribuir para um estresse cumulativo e lesões.

Frequência e intensidade do treino

A frequência e intensidade do treino dependem do preparo físico individual. Uma pessoa bem treinada terá menor desgaste físico durante a corrida e será capaz de se recuperar mais rapidamente após um treino. Corredores em busca do alto desempenho em provas longas necessitam de um grande volume de treino, geralmente acima de 50km por semana. Este volume leva a um risco aumentado de lesões e mesmo atletas com bom condicionamento não devem fazer isso caso não tenham tempo para otimizar a recuperação entre os treinamentos.

Corredores com grande volume de treino precisam ficar atentos para certos sinais de alerta que podem indicar uma carga excessiva de corrida; procure um médico e reduza os treino, se:

  • Estiver tendo dores osteoarticulares repetitivas e se estas dores demoram mais do que o de costume para recuperar.
  • Não estiver mais com a mesma vontade de antes de treinar, procurando sempre motivos para fugir dos treinos.
  • Estiver com sensação de fadiga constante
  • Estiver com problemas com o sono, como dificuldade para dormir ou a sensação de que está acordando cansado.
  • Os resultados de competições estiverem piorando progressivamente ou deixando de melhorar sem outra explicação evidente.
  • Estiver ficando doente frequentemente, principalmente com doenças infecciosas. 

Qual o melhor terreno para treinar?

O terreno em que se corre também tem importância. No inicio, deve-se dar preferência para terrenos nem muito duros (asfalto, concreto) nem muito macios (areia fofa). O terreno muito duro provoca grande dissipação de energia nas articulações, podendo causar lesões; a areia fofa exige muita força de impulsão e, se o corpo não estiver preparado para isso, também pode ser lesionado. Terrenos de terra batida são ótimas opções quando disponíveis. Deixe treinos de subidas e, principalmente, descidas, para quando já estiver bem treinado.

Deve-se evitar ainda terrenos inclinados lateralmente, como é o caso de algumas praias; as ruas também apresentam inclinação lateral para permitir o escorrimento da água da chuva, o que faz com que a pisada com o pé próximo a calçada seja mais baixo do que com o outro pé. Geralmente o pé esquerdo é posicionado próximo a calçada de forma a correr de frente para o tráfego, o que faz com que as tendinites sejam mais frequentes do lado esquerdo. Quando possível por questões de segurança, o ideal é alternar o lado da corrida, hora com a calçada a esquerda e hora com a calçada a direita. Pelo mesmo motivo, ao correr em terrenos com muitas curvas sempre para o mesmo lado, como nas pistas, deve-se sempre que possível alternar o sentido da corrida. 


O Dr João Hollanda é médico ortopedista especialista em cirurgia do joelho e trauma no esporte, médico da Seleção Brasileira de Futebol Feminino, corredor e com interesse específico no estudo e tratamento das lesões na corrida. Maiores informações em www.ortopedistadojoelho.com.br

I Corrida das Paineiras

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Foto do acervo da Instituto Eleonora Mendonça

A Corrida das Paineiras foi um das primeiras corridas realizadas dentro de uma área florestal no Brasil, em 1979 e quem nos conta um pouco disso é a Eleonora Mendonça, pioneira da corrida de rua no Brasil.

Foi como atleta do Fluminense que comecei a treinar e conhecer as Paineiras, um local ideal para treinos de corrida. Foi lá que o grande técnico Frederico Hottstacher durante a fase de trabalho de base orientava e comandava a equipe de meio fundo para os ‘tiros’ de 1000 e 2000 mts.. Mais tarde como corredora de longa distancia as Paineiras continuou sendo o meu local preferido para os treinos de resistência.

Nas primeiras corridas de rua a PRINTER ofereceu percursos variados nas orlas de São Conrado, Leblon, Ipanema, Copacabana, Botafogo e Flamengo. Continuando com a inovação, a PRINTER realiza em Março de 1979 uma corrida num local e percurso bastante diferenciado dentro da Floresta da Tijuca – A I CORRIDA DAS PAINEIRAS – 8 KM. Largada e chegada no Hotel das Paineiras.

Pela primeira vez contamos um patrocínio de corrida - a Coca-Cola Refrescos. A empresa foi a primeira patrocinadora das corridas da PRINTER e continuou nos apoiando durante muitos anos.

I CORRIDA DAS PAINEIRAS teve 250 participantes que vieram que várias partes do Rio de Janeiro como também de São Paulo. O vencedor da prova foi João Alves de Souza, o Passarinho, da ADPM de São Paulo.

Após esta primeira, outras edições da CORRIDA DAS PAINEIRAS foram realizadas com pequenas modificações no percurso, sempre pensando em proporcionar um local ideal para os corredores.

Em comemoração aos 40 anos da I Corrida das Paineiras, no dia 24/03/2019 será realizado um encontro, no Rio de Janeiro, com corrida e caminhada, organizado pelo Instituto Eleonora Mendonça. Para maiores informações: https://www.institutoeleonoramendonca.org.br/inscricao.

Eleonora Mendonça

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Foto: Rabbits¹

Hoje, as mulheres representam aproximadamente metade dos corredores de rua no Brasil. Em pesquisa realizada pela USP, em 2016 elas representavam 42% e já eram maioria em provas como as meias maratonas.

Mas nem sempre foi assim, as mulheres vieram conquistando espaço, no decorrer do tempo, com muita luta e suor. Como já retratamos aqui no blog, tudo começou em 1966 com a Roberta Gibb e em 1967 com a Kathrine Switzer. No Brasil, a Eleonora Mendonça é a mulher que leva o título de pioneira da corrida de rua, ela foi a primeira mulher brasileira a participar de uma maratona olímpica, porém a história dela é muito maior do que “apenas” de uma corredora.

Antes de começar a correr, a Eleonora joga tênis, porém, em uma aula de ginástica, rompeu o ligamento cruzado, perdeu a movimentação lateral e sem se recuperar por completo, decidiu abandonar o esporte. Foi então, que em 1971, enquanto fazia o mestrado de Educação Física, em Boston, decidiu começar a correr e nunca mais parou.

Ao voltar para o Brasil, a Eleonora começou a treinar ao redor do campo de futebol do Fluminense e meio que sem querer, acabou chamando a atenção “e foi então convidada a participar do Campeonato Sul-americano de Atletismo de 1973, no Chile, onde seria a única mulher a disputar a prova dos 1.500m rasos”¹. Mas por conta da Ditadura Pinochet, a competição aconteceu apenas no ano seguinte, o primeiro passo de uma carreira vitoriosa.

Desde então, Eleonora foi recordista brasileira e sul-americana em todas as distâncias entre os 1.500m e a maratona. Como no início dos anos 70 não havia corridas para mulheres no Brasil, participava apenas de provas internacionais, foi então que em 1978, começou a organizar corridas de rua no Brasil, com o intuito de fazer a inclusão das mulheres na corrida de rua e, justamente por isso, em 1981, realizou no Rio de Janeiro a primeira corrida feminina da América Latina. A corrida fez tanto sucesso, que na sua 4ª edição, em São Paulo, bateu o recorde mundial de mulheres inscritas, foram mais de 6 mil inscrições.

Em 1979, foi eleita presidente do Comitê Internacional de Corredores, que com muita luta fizeram o Comitê Olímpico Internacional (COI) incluir as provas de 3.000m e os 400m com barreira, além da maratona feminina nos Jogos Olímpicos, o que aconteceu a partir de 1984, nos Jogos Olímpicos de Los Angeles.

Em paralelo a essa luta pelos direitos das mulheres, pela inclusão delas e igualdade no mundo do esporte, ela continuava correndo e treinando forte, assim, entrou ainda mais na história, se tornando a primeira mulher brasileira a participar de uma Maratona Olímpica, justamente em Los Angeles em 1984.

A luta não parou por ai, o “comitê resolveu abrir um processo de discriminação de gênero contra o COI e a Federação Internacional de Atletismo. Esperamos a realização da primeira maratona em um Mundial, em Helsinque, 1983, e soltamos a bomba. O impacto foi tão grande que, três meses depois, foi anunciada a inclusão dos 10.000m na Olimpíada de Seul-1988 e dos 5.000m em Atlanta-2000. A última, os 3.000m com obstáculos, só entrou em Pequim-2008. Demorou muito, mas organizamos um grande movimento feminista no esporte. Talvez o maior”², afirmou em entrevista a “O Globo”.

Além de tudo, foi a criadora de uma das maratonas mais desejadas do Brasil, a Maratona do Rio de Janeiro. Hoje, ela preside o Instituto Eleonora Mendonça que tem como objetivo “resgatar, preservar registros históricos esportivos, divulgar e organizar eventos esportivos, culturais e sociais e traçar estratégicas de ação para o desenvolvimento do esporte e da sociedade”³.

A Eleonora é um exemplo vivo da luta da mulher pela igualdade, pelos direitos e pela democracia, ela realizou muitos sonhos pessoais e através disso permitiu que muitas outras mulheres pudessem sonhar alto, por isso e por tudo o que não coube nessas poucas palavras, meus parabéns pela história e meu muito obrigado por tudo o que fez e faz pelo esporte.

E a todas as mulheres, um feliz Dia Internacional da Mulher.

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