A falta que nos faz

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Foto: Strong Runner Chicks*

É impressionante como passamos a dar valor a certas coisas apenas quando perdemos, mesmo que seja uma perda temporária. Todo esse período de isolamento nos fez e faz refletir diariamente sobre muitos detalhes das nossas vidas, sobre as muitas vezes que podíamos ter feito algo e não fizemos e agora ficamos com uma dúvida: quando teremos a oportunidade novamente?

Sempre achei que nós, corredores, sempre fomos privilegiados, pois aprendemos e passamos a dar valor às coisas “pequenas”, pequenas aos olhos de quem não entende, de quem não vivencia a corrida e não entende alguns detalhes como, por exemplo, um segundo mais rápido, 1 km mais longe, uma medalha de participação, uma corrida inteira sem caminhar e por aí vai.

Hoje, percebo que até mesmo nós, em alguns momentos, não valorizamos tudo o que podíamos ou simplesmente nunca nos demos conta de alguns fatores. Hoje, muitos de nós, percebemos como ouvir o som dos passos no asfalto nos acalma, como, por mais contraditório que pareça, o cansaço pós treino nos alegra e traz sensação de missão cumprida e mesmo que você ainda esteja treinando sozinho, na rua ou em casa, e sentindo tudo isso, provavelmente deve lembrar das corridas e treinos em grupos e sentir falta de algo especial que só encontramos lá, como alguém te motivando a todo momento ou até mesmo poder motivar os colegas ou ainda apenas a sensação de saber que tem alguém correndo ao lado, afinal, quantas vezes insistimos no treino só porque tinha alguém do nosso lado? E, tenho certeza, que na maioria das vezes nem foi preciso palavras de incentivo para continuar. Motivamos e somos motivados apenas pela presença de um amigo.

Os eventos de corrida em si nem precisam ser mencionados, retirar kit, encontrar os amigos, correr todos juntos, RPs, pódios, medalhas, sorrisos, fotos, isso são faltas óbvias em nossas rotinas, não tão óbvia assim é a ansiedade pré prova, principalmente da prova alvo, a meditação silenciosa antes da largada, as contas no meio prova, a fé a cada passada e o orgulho na linha de chegada. Ah... e como tudo isso faz falta.

Enquanto esperamos a retomada, a hora certa de revivermos tudo isso, ficamos com os planos e os sonhos adiados, assim como foram a maioria das nossas corridas, treinos, viagens e tudo o mais que envolve nossa vida fora de casa, literalmente.

Muito do que pensamos hoje, é motivado pelo cenário que vivemos, mas na verdade deveria ser algo constante em nossas vidas, é aquele velho ditado “só se vive uma vez”. Espero que quando nossas vidas “voltarem ao normal” possamos lembrar mais disso, possamos festejar mais, valorizar ainda mais cada pequeno detalhe, que possamos ter mais disposição e menos desculpas, que possamos fazer valer a pena o tempo que passou e não aproveitamos, com o tempo que vai passar e aproveitaremos o máximo que puder e, se possível, correndo.

Carpe Diem.

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*Foto: http://www.strongrunnerchicks.com/saturdays-steph-post-race-blues/track-runner-sad/